domingo, 29 de março de 2009

O que é ser um Coordenador Educafro?


O que é ser um Coordenador Educafro?


Jorge Pinheiro de Jesus*

Para tornar-se um Coordenador de Núcleo Educafro é necessário antes de tudo coragem !!!
Antes de tudo é preciso espírito de luta e dedicação. Espírito de luta para não desanimar frente os desafios que são postos cotidianamente. Dedicação para levar aos alunos as informações necessárias para o seu desenvolvimento enquanto figura ativa na sociedade.
Na função de Coordenador Educafro são postos dois desafios:

A figura burocrática: É função de um Coordenador Educafro seja no posto de coordenação geral, administrativa, financeira, pedagógica, de alunos zelar pelo bom andamento do Projeto. Não é por tratar-se de um Projeto Social que os aspectos formais devem ser postos de lado! Um mínimo de organização é necessária para que toda a informação relativa a cada aluno esteja atualizada. Organização é chave para o sucesso tanto do Projeto quanto dos alunos. Mantenha sempre em dia as tarefas para quais fora designado. Coordenação pressupõe responsabilidade e organização !!!

A figura motivadora: O Coordenador é o ponto de referência do aluno. É o elo de ligação entre o mundo das informações distorcidas e o mundo da CIDADANIA ATIVA. Além de motivar o raciocínio crítico, cabe ao Coordenador Educafro quebrar as barreira, preconceitos, distorções com as quais chegam os novos alunos Educafro (em alguns casos persistem mesmo nos alunos “antigos” ). Isso deve ser estimulado tanto no âmbito das aulas de Cultura e Cidadania, quanto nas conversas, nos recados dados em sala de aula. Lembrem-se: O Coordenador Educafro é a fonte de todas as informações, é quem estimula o debate, é quem gera a dúvida incentivando a pesquisa. Aluno desestimulado não interage, não questiona, não avança !


Os motivos que levam alguém a ser um Coordenador Educafro ainda não é algo que se possa definir com exatidão. No entanto percebe-se que é uma pessoa que busca algo a mais na sociedade, que não se conforma com as injustiças que assolam este país, que vislumbra dias melhores, principalmente para o povo sofrido das periferias.
Ser Coordenador Educafro é ser adepto de idéias progressivas. É ter firme sua ideologia, sem, no entanto furtar-se de discutir novas idéias. É estar antenado nas discussões tanto nacional quanto local. Um Coordenador alienado será um reprodutor das idéias conservadoras e retrogradas. Não é isso que precisamos !!!
A questão racial é algo que DEVE estar enraizado no Coordenador Educafro. Na maioria das vezes o aluno nunca teve qualquer contato com a questão racial. Caberá, então, ao Coordenador a função de elucidar e dirimir quaisquer dúvidas e iniciar o debate. Está não será tarefa fácil já que as fontes de informação (jornais, revistas, televisão) apresentam visão parcial e tendenciosa dos fatos. Assim um trabalho bem elaborado com leituras, sugestões de leitura, vídeos e palestras devem ser preparados para que os alunos tenham a visão exata dos problemas da discriminação e do racismo. A desinformação é a pior das doenças !!!
Além da questão racial, o pilar das lutas da Educafro, é necessário estar em sintonia com as lutas populares seja do Movimento Estudantil, do MST ou de qualquer outra luta popular. Ter uma visão universal dos problemas locais é importante para exercitar a capacidade de indignação. As pequenas vitórias só são possíveis quando há integração e solidariedade entre os povos.
Em suma: Ser Coordenador Educafro antes de tudo é ser um sonhador, é ter a capacidade de ver problema diante de si e não se amedrontar, é ser um eterno motivador. Nosso povo já sofre cotidianamente, e sua fonte de esperança muitas vezes é um Coordenador Educafro, é nele que se espelha e se inspira. Portanto, transmitir confiança, mostrar-se solicito e compreensivo é tarefa do Coordenador. Isso não significa, de forma alguma, “passar a mão na cabeça”. Significa tão e somente não matar o sonho no nascedouro.
Os sonhos são como os Deuses: Se você deixar de acreditar eles desaparecem !!!

Não deixe isso acontecer com os alunos Educafro. Eles agradecem, nós agradecemos. O Brasil merece !!!
Como surge o Coordenador ???

Os fatores que levam um indivíduo a se aproximar da Educafro são diversos. No entanto, todos estes fatores estão relacionados com as mesmas causas: a ausência do Estado e de políticas públicas para as periferias.
O descaso do Poder Público para com as periferias é histórico, refletindo uma visão elitista e conservadora que tem como pano de fundo a manutenção do status quo da camada mais abastada da sociedade.
Nesse contexto, de um lado a ausência do Estado e do outro a indignação, nasce a ação prática, a Educafro, que surge para preencher um espaço que deveria ser ocupado pelo Poder Público. E não por acaso é que o modelo de ação da Educafro (intervenção direta, pontual e temática) é acolhido nos locais mais abandonados pelo Estado que são as favelas e periferias. A ausência de planejamento estatal acaba por trazer a sensação de que o Estado inexiste enquanto organizador e executor de Políticas Públicas.
O Coordenador, que antes de tudo é um cidadão, vivencia todo esse processo de omissão do Estado e diante de tal paralisia resolve intervir no meio em que vive. A princípio de forma voluntarista, e como toda ação voluntarista com suas limitações. Num segundo momento, quando há a aproximação entre a indignação e a ação prática, ocorre a canalização da insatisfação com o Poder Público. Nesse momento da canalização da indignação que surge o papel da Educafro, que nada mais fará do que oferecer um norte. Não no sentido de ser a salvadora de todos os problemas, mas sim de forma a oferecer um conjunto de experiências realizadas em diversas outras periferias e favelas espalhadas pelos grandes centros do Brasil. A omissão do Estado é tamanha em todo o país que não serão muito diferentes as realidades das demais periferias espalhadas em outras regiões, o quadro de abandono não será muito diverso.
Esse é o quadro geral que faz com que o perfil do Coordenador Educafro seja tão parecido.Não é obra do acaso. É a junção de ausência do Estado com espírito de indignação que resulta numa ação prática voltada a ocupar as lacunas do Poder Público.
Obviamente essa não é a solução final para os problemas que pretendemos enfrentar. No entanto é a sinalização de que a ausência do Estado faz com que, a sua maneira, a sociedade se organize e busque viabilizar mecanismos para suprir seus anseios.
Na medida em que as comunidades se organizam e buscam ocupar as lacunas do Estado, mais elas tomam consciência de quão vital é o Estado em suas vidas. Isso faz com que a cobrança por Políticas Públicas seja cada vez mais intensificada.
Quando um indivíduo procura a Educafro ele está em processo de materialização de sua indignação. Cabe a Educafro trabalhar esta indignação e transformá-la em ação prática, em CIDADANIA ATIVA.

* Coordenador do Núcleo Educafro Vila Margarida e membro da Executiva Regional da Educafro Baixada Santista. É favelado, formado em Economia pela Universidade Católica de Santos e Pós-graduando em Políticas Públicas pela mesma Universidade.